O município visitado está situado no Agreste Central de Pernambuco, do qual limita-se ao sul com os municípios de Belo Jardim, Tacaimbó e São Caetano, ao leste com Caruaru, ao norte com Taquaritinga do Norte e Santa Cruz do Capibaribe e a oeste com Jataúba, suas nascentes e vertedouros são constitutivos da bacia hidrográfica do rio Capibaribe com nível base localizado ao norte do município.
Geograficamente salientamos neste município o próprio nome que faz alusão a um brejo[1], evento geomorfológico onde se encontra a sede municipal. Semicercado por paredões rochosos das serras do ponto e da prata, promontórios que nos permitiu escalada no caminho em busca do objetivo principal, chegar à cota de maior altitude do município, a pirâmide.
Este monumento construído como marco de georeferência do ponto geodésico para um mapeamento estadual, fica em um limite da altitude da trilha caracterizando um interflúvio.A trilha apresenta importância histórica por ter sido realizada pelo engenheiro Louis Vauthier em sua estada a Pernambuco, que aqui estava para construção do mercado de São José e dos neoclássicos edifícios do palácio do campo das princesas e teatro de Santa Isabel por ele projetados. Ao realizar incursões pelo interior, o francês percorreu estas paragens o que nos faz aludir a necessidade de oficializar esta trilha pela sua beleza ambiental e importância histórica.
[1] Brejo - para o dicionário Geológico e Geomorfológico do IBGE significa "terreno plano, encharcado, que aparece nas regiões de cabeceira ou em zonas de transbordamento de rios".
Uma parada providencial para alimentação do grupo à sombra de uma mangueira em pleno cafezal foi bem vinda. Salientamos então os terraços em curvas de níveis construídos com muros de rochas empilhadas a permitir o plantio do café nesta altitude em terreno com aclive de 45º de ângulo.
Ao subir a encosta da serra do Ponto é didático observar, o distanciamento da semiaridez deixada nas cotas inferiores do município do Brejo, a percepção da mudança da temperatura que se torna amena e o aumento da umidade, conseqüentemente a paisagem é outra.
A beleza da exuberante vegetação de porte denso é representada por espécies higrófitas de Mata Atlântica como a imbaúba, de espécies hipoxerófitas da Caatinga como o tamboril e uma infinidade de orquidáceas e bromeliáceas destacando o popular cirtopódio e a macambira respectivamente.
Em plena encosta das rochas se instala a produção agropecuária, hora com o plantio do café, árvores frutíferas, milho e macaxeira, como também a pecuária bovina, caprina e culturas de subsistência.
Grande é a destruição da vegetação nativa formadora de nascentes tributárias de inúmeros mananciais, o que nos faz salientar a irregularidade e impensada ação de produzir em cotas de afloramentos rochosos acima dos oitocentos a mais de mil metros de altitude, comprometendo a retenção de umidade para suprir os riachos perenes dependentes deste sistema de barlavento que sem a vegetação nativa verte em forma de enxurradas carreando a fertilidade e a manutenção dos recursos hídricos do município, tornando-os desta forma intermitentes quando são perenes.
Marcante foi na descida da vertente ao vale do povoado de Amaro observar um grande polígono de desmatamentos, onde sem a vegetação está comprometendo a manutenção do solo, a retenção de umidade como também a manutenção da biodiversidade, este ambiente apresenta ravinamentos prestes a instalação de voçorocas.
A comunidade que vive no Amaro é basicamente constitutiva de duas famílias que trabalham na agropecuária orgânica, produzem, milho, feijão, morango e gado bovino.
No segundo dia fizemos a trilha da Mata do Bituri, que se enquadra no Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC como Reserva Particular de Preservação Natural - RPPN, de propriedade da família Amorin.
Salientamos também sinais de retirada ilegal de madeira, ao perceber árvores derrubadas irregularmente apresentando raízes escoras cortadas manualmente, clareiras abertas, copas desmatadas, caules totalmente desnudos e a presença de caminhos possivelmente escoadouros da madeira saqueada.
A mata do Bituri urge por um acompanhamento de fiscal permanente da Companhia de Policiamento do Meio Ambiente da Polícia Militar de Pernambuco - CIPOMA, de monitoramento da Companhia Pernambucana de Meio Ambiente - CPRH e de vistoria da Empresa Brasileira de Meio Ambiente - IBAMA, devido à ausência da possibilidade de manutenção desta reserva, pela distância da cidade e da sede da fazenda, como também das condições de manutenção ser onerosa alegada pelo proprietário.
O município de Brejo e os demais do entorno devem se juntar para realizar uma política coesa na direção do equilíbrio ecológico das matas existentes, a permitir substituição das destruídas, principalmente daquelas altamente impactadas que faz aflorar a rocha do paredão da serra, cena observada a partir do mirante olhando para o terreno vizinho com presença de pasto e sinalizar na direção do turismo ecológico.
A atividade do Turismo presente no município em sua versão cultural tem nas modalidades: ecológica, arqueológica, geoturística e de aventura, tributários, se seriamente empreendidos, pode ser uma forma de gerar recursos financeiros para a localidade e garantir manutenção da biota local, através da educação ambiental realizar treinamento de condutores, mateiros para levar pessoas ao interior da reserva e acessar ganhos para a comunidade onde serão agentes do produto de seu município.
Com a freqüente presença de pessoas no interior da mata, dentro de uma capacidade de carga, ocorrerá sistematicamente uma fiscalização da reserva. Ao ter consciência dos cuidados com a natureza, a população do entorno compreenderá melhor a importância da conservação porque se sentirá envolvida nesta busca não ficando unicamente a cabo do proprietário a difícil missão conservacionista, mas existirá para uma cadeia maior de pessoas do entorno o benefício principalmente à consciência ecológica.
Contudo aborda Milton Santos, a utilização racional ocorrerá o uso produtivo do espaço, diferentemente deste que está ocorrendo por ele denominado consuptivo, que promove saques na mata do Bituri comprometendo a biodiversidade para as gerações futuras, assim concluímos: Será que as gerações vindouras dos Amorim vão ter a mesma consciência que tem os proprietários atuais em manter a reserva?
Professor Jorge Araújo
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